segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CAMINHOS REFLEXOS

Fiquei pensando sobre os reflexos em mim do que escrevi nos dias anteriores. As leituras de vários artigos e dois livros me levaram a reelaborar questões. Vivemos momentos fluidos demais. Tudo parece escorrer pelos dedos. A psicanalista Maria Rita Kehl, em seu livro "O tempo e o cão" - (Boitempo Editorial) - descreve, pela minha compreensão, dois tipos de relação. (Neste livro o foco é a atualidade das depressões e seu crescimento acelerado na sociedade globalizada).

Um ponto que achei muito interessante - (são muitos, mas focarei em apenas este) - refere-se ao que ela coloca sobre o modo como nos relacionamos com o "objeto" (um dos conceitos da psicanálise). Ou nos relacionamos de forma a exercer repressão ou de forma a seduzir. Quando o meio é repressivo, é mais "fácil", pelo que entendi, identificar as questões de fundo, e analisar as melhores estratégias para se relacionar com tais questões e buscar alternativas para resolver.
O meio repressivo é explícito, porque a estratégia do repressor é o autoritarismo. Mas, quando o meio relacional prima pela sedução, a situação é mais delicada. Os subterfúgios utilizados são mais fugidios, porque o sedutor não deixa claro, nunca, quais as questões de fundo. Só se já formos bem vividos e maduros o suficiente para sabermos jogar com os sedutores. As artimanhas são muitas! Jogo emaranhado. Muitos nós. Ao contrário da repressão, na sedução é tudo implicito.

Vivemos tempos onde a sedução impera em diversos aspectos da vida. A sedução é a moeda de troca na sociedade do hiper consumo, onde reina a insatisfação ampla. O discurso para que se consuma "mais e melhor" só faz aumentar a insatisfação. Nada tampa o buraco da angústia existencial, porque esta se liga a outros aspectos da vida pulsional, que não se relacionam com bens materiais. As ligações neste campo são da ordem primitiva.

Por isso, tanta fluidez e muita dificuldade das relações serem pautadas numa ética do bom senso e da integridade. É tudo muito etéreo. Era da virtualidade frenética. Os jogos contém doses imensas de frenesi. Difícil para muitos suspender a ação e refletir.

Por isso, existem muitas questões borbulhantes. A sedução não dá conta de ajudar-nos em nossa labuta contra as angústias da vida. Chega um momento que cansa somente seduzir. Todo o universo envolvido se empobrece. As relações se esvaziam de sentido.

Então, deixemos o caldeirão da sedução continuar a ferver e ficar borbulhando, até que esquente de tal maneira, que, ou pulamos do caldeirão, ou fervemos com todos os sedutores inescrupulosos! Ainda acredito que na hora que "a coisa pegar fogo" saberemos melhor que causas são importantes! Dai, não permaneceremos onde estamos como sociedade, porque será insustentável a permanência da forma como está! Que o caldeirão continue a ferver!