Nesta minha viagem para fora do Brasil, passando por cidades entre Espanha e Portugal, fixo nos recortes que estas cidades me aparentaram numa primeira visita. Escrevo recortes, pois são isso mesmo. Aliás, pequenos recortes de realidades sempre mais complexas quando vistas "de perto e de dentro", tomando de assalto categorias cunhadas pelo Prof. J. Magnani da FFLCH / USP. Porque decerto, se tivesse mais tempo para observar, estes que chamo de recortes iriam variar muito seus tons.
Mas, como o tempo desta viagem é relativamente curto, escrevo mesmo dos recortes.
Madri,a começar pelo aeroporto de Barajas é uma cidade que se mostra muito diversa, multicultural, colorida, alegre. Na Praça Latina, no centro, uma mescla de cores e sabores, idiomas e ritmos. Os espanhóis a andar com seus pares, animais, velhos, moços, crianças. Todos falam e gesticulam e me apareceram e pareceram, de fato, em sua latinidade. Muito oportuno o nome desta Praça - "Praça Latina"...
A cidade de Braga em Portugal, em plena "Semana Santa", com toda a sua suntuosidade histórica, seus monumentos, castelos, igrejas e afins. Uma cidade exalando traços de sua rotina religiosa católica. Os moradores desta cidade, com quem conversei foram muito agradáveis, e pessoas que dizem o que pensam de forma convicta, sem melindres e sem rodeios. Educados, agradáveis e diretos. Me senti bem nesta cidade, experimentei gostos, sabores e sensações novas.
A cidade de Guimarães, considerada uma "aldeia", assim nomeada por seus moradores - com quem falei - tem 50.000 habitantes aproximadamente, é também um local rico de saberes, tradição e história. Em 2012 foi nomeada a "Capital da Cultura na Europa". Entre suas qualidades, tem um Centro Cultural nomeado "Vila Flor", com sua "Plataforma das Artes" que congrega variadas apresentações artísticas em diversas linguagens. E, possui uma programação digna de respeito para seus "miúdos", como chamam suas crianças. Como gostei deste termo - "miúdos". Referem-se às suas crianças de forma tão respeitosa e dedicada. E, ao acompanhar uma de suas atividades, pude perceber que estes "miúdos" são miúdos em tamanho, porém, graúdos em curiosidade e inteligência... como a maioria dos miúdos no mundo...
A cidade do Porto pareceu-me mais rígida, mais sisuda, e nem por isso menos agradável de ser vista e sentida em toda a sua complexidade, que já se desenha nos labirintos de suas ruas centrais. Ruas estreitas e cheias de charme. Em Porto não conversei com muita gente. Somente com um motorista de táxi e um comerciante.Mais diretos. Me lembraram alguns de nós mesmos, metidos em nossas rotinas de trabalho, com um trânsito pesado, sem muita paciência muitas vezes...risos... Como é bom percebermos certas peculiaridades. Porto, segunda maior cidade de Portugal, sua Universidade que leva o mesmo nome, onde me senti honrada em adentrar... Por vezes, sentimentos ambíguos, porque os portugueses que estiveram no Brasil a nos colonizar não foram assim, tão dignos em suas ações. Porém, como a vida é uma mescla de ambiguidades, me senti bem, mesmo com pensamentos, críticas e racionalizações a me rondar...
E, esta cidade onde estou agora, Lisboa... Cidade grande, onde tradição e modernidade convivem de forma íntima, interessante, a nos indagar. Os sentimentos ambíguos me rondam aqui também. Muitos espaços visitados, muitos diálogos trocados. Muitos sabores experimentados. Várias sensações e emoções. Como um comentário postado por uma amiga "é em Portugal que também nos percebemos tão brasileiros"!
Com nossa brasilidade em toda a sua variação.
Não imaginei que ao ouvir fados fosse vivenciar tamanha emoção, a ponto de chorar. Boa surpresa!
E, surpresas boas também nos campos direcionados aos "miúdos"... Uma delas: O "Museu das Crianças" no coração da cidade dos lisboetas. Singelo, delicado, convidativo e um espaço privilegiado dedicado às crianças. Que boas possibilidades de conhecer outros lugares. Sempre a nos indagar, a nos surpreender e tocar em nossa curiosidade...
"Olhos bem abertos, para ver e sentir"