quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

TEMPOS E TEMPOS..."O Curioso Caso de Benjamin Button"

Ao assistir ao filme "O Curioso Caso de Benjamin Button", inspirado no conto de F.Scott Fitzgerald, dirigido por David Fincher, sai do cinema com uma daquelas raras sensações de prazer, misturado à uma certa tristeza melancólica.
E, fiquei a pensar nas constantes variações, fascinações e inquietações que o tema "Tempo" exerce sobre mim, e sobre várias pessoas com as quais me relaciono.
Somos nós, desde nossa origem, seres que refletem sobre sua própria finitude. Estas reflexões se expressaram e continuam a se expressar em diversas obras ficcionais, científicas, literárias, e etc...O fato de sabermos de nossa finitude nos coloca diante de várias questões: o que escolher, como viver, casar (com quem), não casar, ter filhos (com quem), não ter...entre várias outras relacionadas ao que cada um de nós valoriza em nosso percurso.
O que me deixou feliz ao assistir este filme, foi a forma como o diretor pôde nos proporcionar reflexões sobre os fatos da vida de forma tão sábia, dolorida e, ao mesmo tempo poética! Explico: o rapaz em questão - Benjamin Button nasce velho...isso mesmo, é um bebê que nasce velho, com todos os problemas que qualquer pessoa na faixa de seus 80 anos apresenta. Rugas em demasia, artrite, catarata nos olhos, e etc...É um bebê monstruoso, nas palavras do próprio pai que o deixa na escada de uma casa que abriga velhos, porque não consegue suportar a situação de ver o filho tal como é, e suponho eu, ainda ter perdido a mulher no parto deste ser. Nos encontramos aí, diante de um dilema totalmente atual: o abandono de crianças e velhos. Dilema atual, porque nesta sociedade que valoriza e reforça o discurso da juventude eterna e dos padrões midiáticos de beleza, o que parece estar em voga é ser um adolescente eterno...belo e medíocre...Entendam que não estou fazendo uma crítica à adolescência como fase da vida, e sim a um sistema vigente.
Dentro desta lógica, as crianças e os velhos ficam nos pólos, e não raro, sofrem rejeições e abandonos, de formas variadas. Porque cuidar das crianças e dos velhos requer amor, compaixão, generosidade e maturidade. Qualidades que se expressam em gestos que eu mesma, muitas vezes, tenho dificuldades em exercer.
Crianças e velhos... Benjamin é um velho criança, ávido por conhecer a vida, e o mundo que vai se desvendando aos seus olhos, através dos personagens do filme!
Sejamos crianças, adolescentes, adultos ou velhos, estamos sempre a mercê do TEMPO! É este senhor que dita as regras...e que, muitas das vezes, nos prega peças.
Oxalá pudéssemos todos ter a serenidade e ousadia, bem representadas pelos atores Brad Pitt e Cate Blanchett em suas atuações. Em nenhum momento os personagens abrem mão de viver o que tem que viver, porque sabem que o tempo é implacável! E por isso mesmo não economizam vida! Fazem correções de rota, como seria adequado a qualquer um de nós, porém, não abrem mão de viver. O pacto deles é com a vida! Sabedores que são da morte, vão em busca de seus ideais e sonhos. Para mim, este é o ganho ao assistir ao filme: em nenhum momento existe a negação da finitude, porém, ao mesmo tempo, os personagens, em suas interpretações dão lições de como não negar a vida, em suas diversas manifestações. Esta é poesia!
Sai feliz, e ao mesmo triste do cinema, porém, com a sensação de que a vida vale a pena!

Um comentário:

  1. MUITO LEGAL, ANA!

    É IMPORTANTE NÃO ARRISCAR QUE AS COISAS DA VIDA POSSAM ESCAPAR, POIS É ISSO QUE OCORRE QUANDO ELAS FICAM SÓ CONOSCO, SEM UMA INTERLOCUÇÃO E SEM UM REGISTRO.

    UM BEIJO,
    M TERESA

    ResponderExcluir