COM - PULSÕES
Pulsão é um conceito utilizado de forma recorrente pela psicanálise.
Pulsamos porque temos muitas energias que nos atravessam e fazem com que nosso desejo se movimente. Diferente dos animais que agem por instinto, nós agimos atravessados pela nossas pulsões, movimentadas pelo desejo, através do psiquismo.
E, o psiquismo humano é formado, desde o nosso nascimento, por diversas instâncias:
familiares, sociais, culturais. Daí, tamanha diversidade!
E, de uma forma ou outra, temos nossas compulsões. Aquelas coisas que fazemos de forma repetitiva, porque ficamos perdidos, muitas vezes, em nossa estrutura que se pauta por vários tipos de faltas existenciais.
Pulsamos tanto, muitas vezes, que as compulsões são um tipo de transbordamento dos desejos e das faltas que não conseguimos conter corpórea e psiquicamente.
Cada um pode pensar em atos bobos (ou nem tão bobos assim) que repete à exaustão, e indo mais longe, pensar nas compulsões mais sérias, como o uso de drogas pesadas, que levam o ser à uma espiral de destruição, porque daí o que impera é um tipo de pulsão de morte.
Escrevo sobre isto, porque fui fazer uma visita profissional à uma clínica de recuperação para pessoas viciadas em álcool e drogas e sai pensando muito sobre o assunto. Neste dia em que estive presente, os familiares das pessoas internadas também foram visitá-los. Presenciei cenas diversas entre as famílias e as pessoas que estão em recuperação, e entre estas cenas, várias me deixaram mais reflexivas.
Fiquei aproximadamente 5 horas na clínica. Tempo que me permitiu compartilhar de um trabalho sério, onde existem possibilidades reais para aqueles que querem entender a si mesmos, a estrutura familiar em que estão, e sua sociedade. E escolher a busca de um caminho que conduza para uma pulsão de vida, invertendo a lógica perversa que o uso de drogas conduz. Nada simples, ao contrário, bem complexo, principalmente numa sociedade que prima em estimular demasiadamente nossas pulsões mais primitivas, através dos bens de consumo. Porém, a recuperação é possível para aqueles que, vítimas de suas compulsões, se encontram prisioneiros de si mesmos. Porque também se faz necessário movimentar o desejo em prol da PULSÃO DE VIDA, exercendo o pensamento sobre nossas ações! Viver dá trabalho!
O artigo me faz refletir sobre uma breve experiência minha,enquanto estudante de Teologia em São Leopoldo/RS,e numa atividade extraclasse da disciplina Teologia Prática, do meu saudoso professor, Roberto Zwetche,frequentei uma comunidade de recuperação de drogados e alcoólatras,no morro Ferrabrás, em Sapiranga.Lá ninguém tinha,naturalmente,acesso às drogas ilícitas que consumiam anteriormente ou bebidas, mas era impressionante a quantidade de cigarros que cada um deles fumava.O responsável pela comunidade dizia que tinha que deixar, ao menos, uma válvula de escape para os internados e aí eu pude perceber bem o lance das "pulsões" e "compulsões", como bem foi tratado aqui no texto da Ana. Na conversa que eu tive com um grupo de ex-drogados,eu percebi que uns gostavam de música,outros de surfe, futebol ou de ciclismo,mas os mesmos diziam que não queriam retornar pra suas atividades anteriores, pois elas lhes levavam às drogas.Ora, como é que ouvir música eletrônica pode levar alguém a se viciar em drogas sintéticas, ou pedalar por encostas e morros leve ao hábito de fumar maconha?O que essa rapaziada necessitava, a meu ver, era de novas pulsões:uma pulsão de vida, baseada num sentimento real de contentamento que é muito mais produtivo do que a trivial e fugaz sensação proporcionada pelas drogas,seja ela uma pedra de crack ou uma dose de cachaça.Falando mais pelo sociologuês do que pelo psicologuês,entendo que a sociedade moderna é repleta de bens de consumo e de uma fetichização da mercadoria,que obriga a que cada um tenho algo pra consumir, algo que satisfaça seus sentimentos mais primitivos,tornando-se refém de suas pulsões.A droga ilícita,assim como a mercadoria,é colocada no mercado a fim de satisfazer a pulsão de consumo que todos, de alguma forma,tem. Portanto, ao invés de curtir lugares,pessoas e ruídos,curtimos substâncias,bebidas alcoólicas que "descem redondo" ou baforadas de tabaco que um dia significavam "sucesso".Pulsões todos nós temos,resta saber para onde elas irão,diante do consumismo de uma sociedadade que quer nos devorar e consumir.Isso sim, é uma verdadeira droga!
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