sábado, 26 de dezembro de 2009

2000 e 10

Mais um Final de Ano, dentro do ciclo do calendário que seguimos no Ocidente. Finais de Ano são cheios de reflexões, depressões, novas promessas.
O que noto de forma recorrente é que grande parte das pessoas promete muito mais coisas a si mesmas nesse momento do ano. Mas poucas são aquelas que partem para a ação necessária ao cumprimento dos objetivos propostos em tais promessas. Por que? Porque agir dá trabalho. Trabalho objetivo e trabalho subjetivo. Agir para gerar mudanças requer determinação e determinação requer energia. Por isso, ano após ano muitas pessoas continuam com as mesmas reflexões, questões e depressões. Não avançam. Não saem do lugar.

Trabalho objetivo e trabalho subjetivo. Ouso dizer que para efetuarmos qualquer mudança em nós, o trabalho interno vem primeiro. É preciso desejar primeiro. É preciso tempo de elaboração interna para depois partir para a ação concreta. Os estrategistas negociais chamam esse momento de planejamento. Mas, diferente de negócios comerciais que visam gerar mais lucros para o capital, este tempo de elaboração interna é necessário para sabermos qual é o nosso tempo do desejo. E parece que desejo genuino é algo raro nos dias que correm. Não falo dos desejos de consumo! Estes são alimentados pelo desejo do capital gerando vários falsos desejos, que encobrem o que realmente desejamos de nós mesmos e que possa ser transformado em algo direcionado aos outros de forma generosa. Falo do desejo de nos sentirmos mais plenos como gente!

Não é por acaso que a perspectiva da DEPRESSÃO se tornar a principal causa de doença incapacitante em menos de 10 anos é premente. Numa sociedade regida pelo consumo, a depressão é a resposta. Nenhum consumo tapa nossa falta primordial. Existência é falta.
Mas, como compreender que existir pressupõe falta, se vivemos rodeados pelos discursos e dispositivos de consumo constantes a nos prometer "plena satisfação"? Satisfação esta que se torna insatisfação imediata, após os novos produtos ofertados pelo mercado, freneticamente!

As indústrias farmacológicas investem pesado na pesquisa e lançamento das novas drogas para a felicidade. E, entre uma pílula da felicidade aqui e outra ali, vivemos numa sociedade dopada, acabrunhada e com medo. Sociedade que tem medo de tudo e de todos. Todos são uma ameaça para todos. É só olhar em volta: cada vez mais ofertas de condomínios fechados com o sologan de "segurança total", carros enormes com blindagem, seguranças por toda a parte nos estabelecimentos.

Penso no ícone que é Jesus, com sua mensagem de amor e de boa convivência. Em suas andanças falando às multidões, sempre instava seu público com reflexões, perguntas, ações.

Numa passagem bíblica conhecida, Jesus está num local com uma grande multidão de pessoas com deficiências e incapacitações. Um dos presentes ali, que já está sem andar por longos anos pede a Jesus que o ajude.

Jesus faz a célebre pergunta:
- Tu QUERES andar?
Ao que o paralítico responde sim.
E então Jesus lhe diz:
- Então, pega tua cama, levanta e anda.

Jesus pergunta se o paralítico QUER sair da sua situação de paralisia. Jesus pergunta se o paralítico DESEJA andar por outros caminhos.

QUERER, DESEJAR. Palavras essenciais para vivermos de forma genuína e sustentarmos nossa própria falta existencial, esta que nos faz querer a vida, sabedores que somos de nossa finitude.

Mas, para desejar precisamos pensar, precisamos elaborar, precisamos nos colocar em questão. Faz-se necessário sair do lugar comum. Sair da maca da paralisia, para a vida.

Faz-se necessário desejar a VIDA!

Um comentário:

  1. Ana (esse nome tem algo de mágico)
    Mais um texto sensato, belo e surpreendemte.
    Você consegue uma profundidade rara em textos curtos para internet.
    Esse é pra ler e reler.
    Beijos e feliz ano novo!
    :)

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