quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ESTOICISMO

Pelo que compreendo, estoicos são aqueles que mantém uma certa postura de "indiferença", seja qual for a situação. Não esboçam reações mediante situações de tristezas, alegrias, tragédias.
Algumas leituras que fiz sobre Sigmund Freud lhe classificam como um estoico. Um homem que conseguiu manter a "indiferença" mediante as situações mais extremas. Perdeu uma filha ainda jovem e dois filhos foram para a guerra.
Desconfio desta (mais uma) classificação que deram a Freud, porque pelas leituras, pude depreender que ele viveu intensamente sua vida. Parece-me que manteve serenidade mediante suas dificuldades, mas sentiu de forma intensa tudo o que padeceu, se alegrou com suas descobertas e desfrutou ainda em vida de certos reconhecimentos.
Fiquei a pensar sobre isso, sobre "ser estoico" e os desdobramentos desta atitude. Alguns filósofos destacam o estoicismo como virtude, algo a ser adotado. Não sei se, por ignorância, ou falta de condições psíquicas, penso que adotar uma forma de viver que prime por uma postura estoica me parece bem difícil. Parece que se faz necessário não sentir. E, como não sentir? Podemos até manter uma postura mais distanciada de certas coisas, ficar alheios em certas situações, mas até isso é demonstração de que nos protegemos de determinadas coisas ou situações que nos afetam.
Me parece impossível não se deixar afetar. Com o amadurecimento, até conseguimos ter menos reações passionais, porque várias delas são mesmo sinal de imaturidade. Porém, diante de certas situações como agir, ou não agir?
Gostaria muito que pessoas que entendem mais sobre este termo e esta "forma de ser" pudessem me apresentar seus argumentos. Fiquei muito curiosa a respeito.
Não podemos confundir estoicismo com determinadas psicopatologias, entre elas a perversão e a psicopatia. Psicopata é aquele que, de fato, não sente. De fato não se importa. Mas este conceito se enquadra num tipo de doença psíquica. Não é disso que trato aqui. Minha curiosidade se dirige a pessoas que entendem que existem seres que adotam o estoicismo como jeito de viver ou "são estoicos" mesmo.
Alguém aí se habilita a me fornecer mais dados a respeito?

Um comentário:

  1. Aninha!!! Saudades, meu bem...

    Acontece uma imensa incompreensão tanto histórica quanto filosófica do modo de vida chamado estóico. O termo grego que designa isso a que chamamos indiferença ante a vida, é a "ataraxia" que poderia mesmo ser traduzida por impassibilidade, o indivíduo que não se perturba, que não se afeta com o que ocorre em sua vida. Evidentemente, isso é um equivoco. À parte o fato de se pensar filosoficamente que a razão pode dar conta de tudo o que existe, sobretudo eliminar as paixões que nos assolam, o termo não se aplica como o compreendemos hoje entre os gregos, sobretudo entre os estóicos que, muito embora elogiassem a razão entre as possibilidades da alma mais elevadas a que podemos ansiar, jamais poderiam ter tido a presunção de eliminar absolutamente as paixões, os sentimentos e as emoções de suas vidas... o que se intencionava, era regular NA MEDIDA DO POSSÍVEL os afetos (tal como Freud obrou) para que estes não afetem o organismo a um ponto irreversível, (lembremos do conflito entre Eros e Thanatos, que Freud muito bem estudou)... Outra coisa, é preciso distinguir, e os estóicos sabiam disso muito bem, assim como Espinosa (grande leitor dos estóicos) entre as paixões tristes e as paixões alegres, isto é, aquelas que nos refreiam e aquelas que estimulam nossa potência para a vida... evidentemente, pelo simples que disse aqui, havemos de deduzir que os estóicos, no afã de regular os afetos pela razão (melhor dizendo, pelo Lógos, que incluía muito mais do que hoje compreendemos por razão), diferenciavam muito bem aquilo que nos compõe bem e aquilo que nos compõe mal. A impassibilidade relacionava-se, segundo penso, às más composições e tendências, seria preciso lutar contra elas, claro, como até hoje sabemos. No entanto, fruir os bons afetos, aqueles que compõem bem conosco, que nos aumentam a potência para a vida, não era somente recomendável, mas altamente necessário, segundo o próprio modo de ser da Natureza. O conceito que melhor exprime isso que tento dizer tão mal, é o conceito da noção comum, depois te mando algo sobre isso... Enfim, muito há o que dizer sobre isso, e muito há de discutível no que digo, também... mas os estudos mais recentes (e mais confiáveis) sobre os estóicos, desmentem e muito essa compreensão "romântica" que obtivemos desses pensadores que foram, sem dúvida, a maior e mais intensiva corrente de pensamento da época helenista. Valeria à pena nos aprofundarmos. E Freud, como grande espírito que foi, jamais poderia ser taxado de nada, ainda mais de "estóico" no sentido pejorativo...

    beijos.
    saudades,
    me escreve!!!
    como está o novo travalho???
    ev.

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